O Círculo do Amor
Que poderemos entender por este título?
Não vivemos isolados no Universo, há uma força oculta que nos liga, não apenas aos homens, mas a todos os seres. Com efeito, todos os comungam dessa Bênção especial que é o Amor.
Só o Amor conseguirá, um dia, modificar a atitude dos homens que são capazes de provocar dor e sofrimento aos seus semelhantes, sem a menor consideração pelos seus sentimentos. Todavia, quando nos referimos ao “círculo do amor”, não estamos a pensar apenas no homem, pensamos sim nos outros reinos: animal, vegetal, etc.. Para esses, o “círculo de amor” é indispensável e, se todos os humanos fossem capazes de enviar sentimentos puros, generosos, compreensivos, para o mundo, a sua atmosfera seria completamente melhorada.
Temos falado com frequência da ideia errada que prevaleceu em muitas sociedades àcerca do relacionamento do homem com os animais, como se estes existissem apenas para serem utilizados e até destruídos pelos humanos.
Contra esta atitude, devemos lembrar uma das ideias fundamentais de Gautama Buda, que considerava a compaixão para com todos os seres como sendo essencial.
São João Crisóstomo (347/407), de igual modo, afirmou que devemos mostrar para com os animais “grande bondade e gentileza, por muitas razões, mas, acima de tudo, porque eles são da mesma origem que nós próprios”.
Desenvolvendo este sentido da “compaixão”, será possível religar “Deus e a Humanidade”. Como é sabido, o círculo é um símbolo sagrado para muitas culturas, representando a unidade da criação e a ausência de “vazio” de origem independente. O círculo sagrado é a vida eterna para os Budistas Tibetanos. A cruz do Cristianismo, como a estrela do Judaísmo, colocam-nos no círculo sagrado. É central para todas as formas de existência, porque não há hierarquia: todas as existências são da mesma origem e essência. É uma ideia semelhante à de São Francisco de Assis, quando afirmava que “através da Natureza podemos compreender Deus, porque tudo está no Uno”.
Albert Schweitzer falava de maneira semelhante, quando observou: “se um homem começar a pensar no mistério da sua vida e nos laços que o prendem à vida que enche o mundo, só pode sentir reverência pela Vida”. “Esta reverência surge espontâneamente uma vez que experimentemos a comunhão que nos liga à vida e enche o mundo”.
Quando sentimos uma ligação íntima com todas as criaturas e conhecemos a nossa unidade com o Universo, comungamos com toda a Criação. Assim, tornamo-nos humanos e civilizados.
Podemos sentir-nos unos com os animais e com a Natureza, quando nos libertamos das pressões do humanismo secular, de modo a que o nosso espírito e o de todos os seres vivos possam fundir-se no campo unificado do Grande Espírito do SER. Deste modo, podemos conhecer Deus. A comunhão com os animais e a Natureza é uma forma de experienciar a divindade. Nós e todos os seres somos realmente uma grande família, como disse Michael Fox: “como indivíduos, somos todos aspectos de um só EU e de uma só Humanidade”.
Tal como os outros animais, somos manifestações da mesma Criação, temos a mesma origem e ligação com a vida, por isso deveríamos respeitar todos os seres vivos como irmãos. É o nossos pensamento dialista e hierarquizado que nos leva a acreditar que somos superiores aos outros animais. O nosso corpo e a nossa Alma são vistos como separados: o corpo com a sua fragilidade física e paixões animais é considerado inferior. A Natureza deve ser sacralizada e respeitada.
Todas as pessoas divinamente inspiradas revelam o Divino, o Deus interior. Quando comungamos com o canto das aves, o sussurrar das folhas, descobrimos a nossa comunicabilidade com os outros seres. Devíamos respeitar a libertade dos outros animais, que, quando metidos em gaiolas, jaulas e circos não beneficiam da nossa consideração nem se torna possível verdadeira comunicabilidade com eles.
Temos referido vários aspectos da vida, em que o sentimento do Amor surge por detrás de tudo e constitui, de facto, o grande “Círculo do Amor”, que nos leva a uma unidade profunda e séria com toda a Criação.
Julgamos ter mostrado como nós próprios e todos os seres do mundo, constituimos o referido “Círculo do Amor”, que nos deve ligar cada vez mais, de modo a permitir-nos sentir que não somos “estranhos” na Natureza e que temos em nós algo de Divino.
Bibliografia:
A New Covenant With Nature – Richard Heinberg;
The Boundless Circle – Michael W. Fox;
The Power of Peace – James A. Swan.
Maria Guilhermina Nobre Santos
Sessão de Encerramento da Sociedade Portuguesa de Naturalogia.
Foto: Isabel Nobre Santos